Horton e o mundo dos Quem

A nova animação da Fox chega como um dos filmes mais aguardados do ano. Com abordagem puxando para o lado infantil, ele trabalha de forma divertida assuntos muito discutidos atualmente, como o direito à vida e a alienação de uma sociedade descrente.
Tudo começa quando, certo dia, um elefante em pleno ritual de limpeza escuta um grito de socorro. Ele não tem idéia do que pode ser, mas tem consciência de que aconteceu. O que pareceu por alguns segundos ter sido uma impressão falsa comprova-se alguns minutos depois: ele escuta o grito novamente. E mais uma vez. Intrigado, resolve investigar de onde vem aquilo que parece ser um angustiado pedido de socorro. Para sua surpresa, ele vem de um pequeno grão de poeira. Enquanto alguns afirmam não ser possível existir vida em um pequeno grão, o elefante chamado Horton não aceita as suposições, pois ele escutou. E sabe que ali há vida.

Enquanto isso, na minúscula civilização de Quem-Lândia (o grão), o povo sofre com mudanças repentinas do clima, constantes tremores e instabilidade. Os problemas tiram o sono do Prefeito, que já não sabe mais o que fazer para defender seu povoado. Eles nem desconfiam que todo seu mundo é, na verdade, apenas uma pequena partícula, e que tudo que vem acontecendo é resultado de um pequeno acidente da natureza. A partícula em que moravam, que costumava ser grudada ao pólen de uma flor, acabou soltando-se dela e indo parar nas mãos de um abobalhado elefante.

Agora, para salvar o mundo dos Quem, Horton e o Prefeito se unirão de certa forma para conseguir colocar o grão em um local seguro novamente, e restabelecer a paz. Para isso, eles precisarão ultrapassar a descrença de uma parte da selva que acredita que Horton está louco, e que, ainda por cima, planeja liquidar o grão.

Ted Geisel, criador do livro que originou o filme, define seu trabalho como literatura feita para a família. E está certo. Suas histórias são profundas, e geralmente calham de agradar a pessoas de todas as idades. Quando o estúdio precisou adaptar a publicação para um roteiro, o próprio Geisel esteve presente, junto de Ken Daurio e Cinco Paul, dupla que já vinha trabalhando junta há algum tempo, responsáveis por filmes como “Jimmy Bolha”. O problema que identifico em algumas adaptações é a inevitável roupagem dada pelo estúdio, para que o projeto consiga encaixar-se nos moldes considerados necessários para atrair público. “Horton e o Mundo dos Quem” é um deles.

Quando se fala em animações, um de seus principais requisitos (além, é claro, da lição de moral do final) fica na piada, em fazer rir enquanto fala-se de coisas importantes. De certa forma, em ensinar sem parecer didático. Foi assim que filmes como a franquia “A Era do Gelo” e “Vida de Inseto” tornaram-se sucesso de crítica e público, e é assim que animações têm sido acompanhadas e reconhecidas. Mas essa fórmula não funciona em “Horton” e as piadas acabam soando forçadas. A falta de sutileza atrapalha bons momentos da própria história, que por si só já era ótima. A sensação que eu tive foi justamente de que forçaram uma situação para que ela pudesse vender melhor, quando a trama já teria se valido sozinha. Foram esforços desnecessários que desvalorizaram um ótimo enredo.

Não estou dizendo que a película seja de todo ruim, não é isso. Apenas acredito que poderia ter sido bem melhor. A bem da verdade, há de se dizer que a história de Geisel (que utiliza o pseudônimo de Dr. Seuss) parece ter sido mal-aproveitada. Não foi fracassada, mas também não passou do nível médio, não superou as expectativas: quase decepcionou.

Com isso, o roteiro de certa maneira prejudica a (aí sim) divertida e criativa direção de Jimmy Hayward e Steve Martino, que conseguem dar uma roupagem interessante ao longa-metragem. O primeiro ataca na direção pela primeira vez, mas já vinha traçando boas realizações na equipe de animação de trabalhos interessantíssimos como o já citado “Vida de Inseto”, a franquia “Toy Story” e “Procurando Nemo”. O segundo havia sido diretor artístico do mal recebido “Robôs”. Aqui eles formam uma boa parceria e, de certa maneira, salvam a trama, respeitando a história e buscando graça através de uma direção bem-humorada que não precisa pesar a mão para fazer rir. Soa sincero.

E calma. Se você achou que os personagens de Quem-Lândia lembram muito os de “O Grinch”, você não se enganou. Acontece que Dr. Seuss escreveu também esta história, que são independentes, mas conectam-se em certas características. É como se os personagens apresentados em "O Grinch" fossem os moradores do pequeno grão dessa trama. É notável que a estética dos personagens de Quem é a mesma utilizada no anterior, e não é mera coincidência. Faz parte do universo mágico de seu autor, que criou também "O Gato".

Aliás, um dos ótimos pontos do filme em questão está justamente na sua direção artística, suas cores e no equilíbrio criado em relação ao próprio livro. Apesar do roteiro, “Horton” é uma boa pedida para uma tarde de domingo.

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Um comentário:

Anônimo disse...

Esse desenho é maravilhoso!
Tem uma ótima mensagem para as crianças.
Eu recomendo...